quinta-feira, 14 de junho de 2018
Quais tipos de exercícios físicos devem ser prescritos na doença pulmonar obstrutiva crônica?
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é caracterizada pela inflamação crônica dos pulmões. A mesma produz modificações nos brônquios (bronquite crônica), destruição do parênquima pulmonar (enfisema pulmonar), redução da elasticidade pulmonar, inadequada relação ventilação/perfusão e hiperinsuflação pulmonar. Tais alterações contribuem para a limitação do fluxo aéreo nos pulmões, refletindo em pior qualidade de vida, perdas funcionais e alterações psicológicas.
As complicações da DPOC não se limitam ao sistema respiratório. As repercussões são evidentes no âmbito sistêmico, como por exemplo, nos membros inferiores e superiores, pode ocorrer a perda da massa e força muscular que, aliada à fadiga e dispneia, resultam em limitações nas atividades de vida diária. Assim, o portador da doença passa a necessitar do auxílio de outras pessoas para a realização de atividades rotineiras executadas de forma independente no passado. Em consequência, a sensação de tristeza, sentimento de culpa e insatisfação com a vida, influenciam no surgimento da ansiedade e depressão.
O programa de reabilitação pulmonar, com exercícios físicos, contribui para a redução de exacerbação da doença e posterior internação.
A tosse diária ou intermitente é um dos primeiros sintomas na DPOC e pode surgir antes ou simultaneamente à dispneia. Muitos pacientes ignoram este sintoma, por ser frequente nos fumantes. O aumento na produção de escarro, comumente ocorre em 50% dos casos. Outra complicação da doença, a limitação ventilatória, faz com que ocorra dispneia, intolerância ao exercício e redução do estado geral de saúde, contudo, a disfunção dos músculos periféricos, reconhecida como principal manifestação extrapulmonar da doença, também traz limitações na realização de exercícios físicos. Em casos avançados, os indivíduos passam a necessitar da ajuda de outras pessoas, para a realização de funções básicas. Por este motivo, os pacientes tendem a apresentar, alterações psíquicas como o desenvolvimento de quadros de depressão, estresse e ansiedade.
A DPOC pode causar disfunção no aparelho respiratório e em outros sistemas corporais face à dificuldade das trocas gasosas, afetando os membros inferiores, principalmente a musculatura do quadríceps, responsável principal da locomoção e que necessita de oxigênio. Há substituição significativa de fibras do tipo I, que se caracterizam pela contração lenta e utilização assídua de oxigênio e o aumento de fibras do tipo II, caracterizadas pela contração rápida e de baixa utilização de oxigênio, ou seja, ao longo dos anos, os portadores de DPOC perdem a capacidade aeróbia.3 A intolerância ao exercício reflete na incapacidade funcional dos portadores de DPOC. Os sintomas surgem aos esforços moderados que se agravam até para os mínimos esforços conforme a progressão da doença.
Além das disfunções do sistema respiratório, a limitação física é um fator relevante na vida do paciente. A disfunção da musculatura periférica, que corresponde à redução da força muscular periférica se relaciona com a incapacidade física e com o aumento na intensidade de sintomas (dispneia, fadiga e cansaço) durante o teste de exercício incremental, independente da função pulmonar.
A reabilitação pulmonar é realizada através de exercícios físicos e respiratórios com objetivo de aumentar a resistência muscular, a capacidade respiratória e as trocas gasosas, resultando em diminuição da fadiga muscular.15 Alguns exercícios físicos não conservadores são o treinamento de endurance para melhora do condicionamento cardiorrespiratório, treinamento intervalado e treinamento de força para MMII e MMSS.16 Silva et al.17, observaram melhora na qualidade de vida dos portadores da DPOC submetidos ao programa de reabilitação pulmonar. A orientação nutricional é de relevância, pois os pacientes podem desenvolver anorexia. O exercício físico deve ser prescrito, conjuntamente às orientações nutricionais, para otimização dos ganhos de massa muscular magra e subsequentemente melhora de força muscular.
Trevisan et al.18 realizaram um estudo com nove indivíduos portadores de DPOC submetidos a um programa de reabilitação pulmonar. Estes exercícios abrangeram fortalecimento da musculatura inspiratória, abdominal e de membros inferiores (quadríceps). A frequência foi de duas vezes por semana, durante o período de dois meses. Ficou evidenciado que o treinamento da musculatura respiratória e do quadríceps aumentou significativamente o desempenho funcional dos pacientes.
No estudo realizado por Simpson et al.,19 após oito meses de treino de força muscular para MMII e MMSS durante três vezes por semana em portadores de DPOC, houve aumento significativo na força muscular de quadríceps e peitoral maior e redução da dispneia. Pode-se concluir que o exercício resistido, a partir de programa de fortalecimento muscular é tratamento eficaz para indivíduos com DPOC. Dourado et al.20, em estudo com 28 pacientes portadores DPOC alocados no grupo controle e no grupo submetido ao treinamento de força muscular, avaliaram diferentes técnicas de treinamento muscular como o treino de força muscular, treino de baixa intensidade e o treino combinado. As sessões foram realizadas três vezes por semana, ao longo de 12 semanas. Os pesquisadores observaram que o treino de força muscular para membros inferiores, com sessões compostas por três séries de 12 repetições (carga entre 50-80%) e realização do teste de RM para a progressão das cargas a cada três semana, contribuiu para a melhora da força muscular e dispneia dos indivíduos avaliados.
Clark et al. 21 realizaram um estudo randomizado e controlado com 43 pacientes ambulatoriais portadores de DPOC, alocados no grupo controle (indivíduos sem treinamento) e no grupo teste (indivíduos treinados). Foram oito semanas de treino de força composto por três séries de 10 repetições com exercícios que exigiam a contração dos músculos peitoral e quadríceps e com cargas de aproximadamente 70% da máxima. Os autores observaram aumento de força e resistência muscular ao caminhar em esteira no grupo teste.
Longuini et al. 24 avaliaram a influência do treinamento físico, associado ou não a ventilação não invasiva (VNI) sobre a distância percorrida, oxigenação e sensação de dispneia. Foram avaliados 22 portadores de DPOC, divididos em dois grupos: grupo 1 com treinamento em esteira por 32 minutos, e grupo 2 com treinamento em esteira por 32 minutos, associado ao uso de Bipap®. Os pesquisadores observaram após o período de treinamento físico: Grupo 1 - obteve melhora na distância percorrida no TC6 e dispneia; Grupo 2- apresentou melhora da oxigenação pulmonar. Os autores concluíram que o treinamento físico aeróbico pode aumentar a tolerância ao exercício físico.
A tolerância ao exercício também foi observada em estudo prévio25, quando foram avaliados 22 portadores de DPOC submetidos a 30 minutos de exercícios aeróbicos durante 30 minutos em esteira ergométrica, com complementação de oito minutos de exercício de resistência muscular.
Portanto, observa-se que a maioria dos autores indica o treinamento aeróbico para portadores de DPOC, moderada a grave, sendo os mesmos submetidos a treinos iniciais de 30 minutos, duas a três vezes por semana. E a partir da melhora da dispneia, pode-se realizar a progressão da frequência de execução do treinamento.
O treinamento aeróbico promove a diminuição da dispneia, melhora a capilarização e aumento da tolerância ao exercício e, o treino de força potencializa o ganho de força da musculatura esquelética, em membros superiores e inferiores, de pacientes portadores de DPOC. Os profissionais da área de saúde e pesquisadores em geral devem elaborar abordagens de prevenção e tratamento da doença, pois trata-se de um problema de saúde incapacitante e prevalente.
Os exercícios físicos são eficazes no tratamento e trazem benefícios para a saúde física e mental dos pacientes com DPOC e influenciam de modo positivo na qualidade de vida. Os exercícios ideais são o treinamento de força e os exercícios aeróbicos.
2238-5339 © Rev Med Saude Brasilia 2018; 7(1):61-68
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